domingo, 27 de março de 2011

Perversidade




     Alguém me disse, com a voz embargada, que agora sim, estava convencido da existência de Deus, porque os trabalhos psicografados de Humberto de Campos eram evidentemente dele mesmo.
     - Mas isto não prova a existência de Deus... Prova a existência de Humberto de Campos.

Mario Quintana (A vaca e o hipogrifo, p 134)






Citando Humberto de Campos (1)... 

De pé, os mortos!

          Pede-me você uma palavra para o intróito do “Parnaso de Além-Túmulo”, que aparecerá brevemente em nova edição. (2)
          A tarefa é difícil. Nas minhas atuais condições de vida, tenho de destoar da opinião que já expendi nas contingências da carne.
          Os vivos do Além e os vivos da Terra não podem enxergar as coisas através de prismas idênticos. Imagine se o aparelho visual do homem fosse acomodado, segundo a potencialidade dos raios X: as cidades estariam povoadas de esqueletos, os campos se apresentariam como desertos, o mundo constituiria um conjunto de aspectos inverossímeis e inesperados.
           Cada esfera da vida está subordinada a certo determinismo, no domínio do conhecimento e da sensação.
            Decerto, os que receberem novamente o “Parnaso de Além-Túmulo” dirão mais ou menos o que eu disse (3). Hão de estranhar que os mortos prossigam com as mesmas tendências, tangendo os mesmos assuntos que aí constituíam a série de suas preocupações.
         Existem até os que reclamam contra a nossa liberdade. Desejariam que estivéssemos algemados nos tormentos do inferno, em recompensa dos nossos desequilíbrios no mundo, como se os nossos amargores, daí não bastassem para nos inclinar à verdade compassiva.
             Individualmente, é indubitável que possuímos no Além o reflexo das nossas virtudes ou das nossas misérias.
             Mas é razoável que apareçamos no mundo, gritando como alucinados? 
          Os habitantes dos reinos da Morte ainda apreciam o decoro e a decência, e o nosso presente é sempre a experiência do passado e a esperança no futuro.
          “Parnaso de Além-Túmulo” sairá de novo, como a mensagem harmoniosa dos poetas que amaram e sofreram. Cármen Cinira aí está com os seus sonhos desfeitos, de mulher e de menina. Casimiro com a sua sensibilidade infantil, Junqueiro com a sua ironia, Antero com a sua rima austera e dolorosa. 
              Todos aí estão dentro das suas características.
              Os mortos falam e a Humanidade está ansiosa, aguardando a sua palavra.
             Conta-se  que  na  guerra russo-japonesa,  terminada  a batalha de Tsushima, o grande Togo reuniu os seus soldados no cemitério de Oogama, e na tristeza majestosa do ambiente. em nome da nacionalidade, dirigiu-se aos mortos em termos comovedores; concitou-os a auxiliar as manobras militares, a visitar os cruzadores de guerra, levantando o ânimo dos companheiros que haviam ficado nas pelejas.
             Uma claridade nova cantou as energias espirituais do valente adversário da pátria de Stoessel e os filhos de Yoritomo venceram.
            Na atualidade,  afigura-se-nos que os brados de todos os sofredores e infelizes da Terra se concentram numa súplica grandiosa que invade as vastidões como o grito do valoroso almirante.
             – De pé, os mortos!... – exclama-se – porque os vivos da Terra se perdem nos abismos tenebrosos.
              Os institutos da  Civilização têm sido impotentes para resolver o problema do nosso ser e dos nossos destinos.
            As  filosofias  e  as  religiões estenderam  sobre  nós  o  manto  carinhoso das suas concepções,  mas esses  mantos estão rotos!...
Temos frio, temos fome, temos sede!
              E os considerados mortos falam ao mundo na sua linguagem de estranha purificação. A Ciência, zelosa de suas conquistas, ainda não ouviu a sua vibração misteriosa, mas os filhos do infortúnio sentem-se envolvidos na onda divina de um novo Glória in excelsis, e a Humanidade sofredora sente-se no caminho consolador da sublime esperança.


(Extraído do livro "Parnaso de Além-Túmulo". 4a edição, p. 21, pelo espírito de Humberto de Campos, psicografado por Francisco Cândido Xavier)




(1) HUMBERTO DE CAMPOS Veras, escritor brasileiro, membro da Academia Brasileira de Letras, nascido em Miritiba (hoje Humberto de Campos), MA, em 1886, e desencarnado no Rio de Janeiro, em 1934. Foi jornalista e deputado federal. Produção literária variada quão vultosa, conheceu em vida física a 1ª edição do Parnaso de Além-Túmulo, manifestando-se a respeito dela pelo “Diário Carioca”, edições de 10 e 12 de julho de 1932, com os artigos intitulados “Poetas do outro mundo” e “Como cantam os mortos” (apud “A Psicografia ante os Tribunais”, de Miguel Timponi, páginas 60 a 64, 4ª ed. FEB). Liberto dos liames da carne, dois anos depois passou ele a valer-se, como Espírito, das faculdades mediúnicas de Francisco Cândido Xavier para a transmissão de importantes mensagens, como a que se inseriu nesta página, acoplada ao mesmo “Parnaso” que ele conhecera aqui na Terra e oriunda do mesmo “Além-Túmulo” por ele tenuemente vislumbrado, entre o assombro e a esperança, Ditou-nos 12 livros, sendo 9 sob o pseudônimo de Irmão X, editados pela FEB. Vale destacar “Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho”, já em 9ª edição, o livro confirmador da missão espiritual do Brasil, que é a de levar as luzes do Evangelho do Cristo a todos os quadrantes do Mundo, visando à cristianização da Humanidade, sob a orientação do Anjo Ismael, o Legado do Governador Espiritual do Planeta em Terras de Santa Cruz. 
(2) Refere-se à 2ª edição, publicada em 1935. 
(3) Alude às crônicas que ele, quando encarnado, escrevera no Diário Carioca, em julho de 1932, ao surgir a 1ª edição do Parnaso. 




Imagem: www.deviantart.com

Um comentário:

  1. Querida Lu! Não conheço nada de Humberto de Campos , então foi uma delícia descobrí-lo.bjs

    ResponderExcluir